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Bruno Tomio

Conhecer Pedalando: As conferências do Festival Internacional de Cinema Socioambiental – Planeta.doc




Um dos principais objetivos do Projeto Conhecer Pedalando é conhecer e divulgar meios que discutam e anseiam possibilidades de transformações em prol de um mundo melhor, mais justo, fraterno, igualitário, democrático, solidário e ecológico. Buscamos por meio de rodas de conversas, debates e palestras em diferentes meios educacionais, discutir, debater e problematizar questões socioambientais e a bicicleta nas suas diferentes dimensões, possibilidades e contextos. Também explorar, conhecer e divulgar pessoas, lugares, belezas naturais, culturas, eventos, universidades, projetos e propostas sociais e educacionais. Partindo desta premissa, estivemos presentes nas conferências do Festival Internacional de Cinema Socioambiental – Planeta.doc, onde reuniu em Florianópolis, cientistas, intelectuais e cineastas, para debater algumas das problemáticas socioambientais da atualidade.


As conferências do Planeta.doc ocorreram nas duas noites dos dias 3 e 4 de novembro, nela estiveram presentes conferencistas de diferentes meios, projetos, e com diferentes visões e concepções de mundo e sociedade, das quais determinavam a abordagem de cada conferencista a respeito de algumas das problemáticas socioambientais evidentes em nossa sociedade. Todas as falas, concepções e experiências apresentadas ofereceram de alguma forma contribuições para a discussão proposta. Porém, algumas exposições foram mais pertinentes do que outras, por meio de análises mais críticas e aprofundadas, das quais superavam as limitações e reducionismos presentes em algumas das exposições. Destacarei abaixo algumas das falas que considerei mais oportunas perante a conjuntura socioambiental atual.



Na primeira noite de conferência destaco a fala de Camila Moreno, pesquisadora na área de métrica de carbono e clima, que problematizou e fez críticas cruciais a respeito do mercado de carbono, uma das medidas da então “Economia verde” ou melhor dizendo “Capitalismo Verde”, que segundo Camila provoca um verdadeiro epistemicídio ecológico diante das várias falácias que o mesmo apresenta como pseudo alternativa para a crise climática. Já na segunda noite destaco as falas dos geógrafos Marcelo Lopes de Souza e Carlos Walter Porto-Gonçalves, e claro também do epistemólogo mexicano Enrique Leff.


Marcelo Lopes de Souza provocou importantes reflexões em relação a uma das problemáticas da qual pesquisa, justiça ambiental como dimensão do desenvolvimento sócio-espacial nas cidades brasileiras, onde analisa criticamente a noção de “risco ambiental” a partir dos marcos da “ecogeopolítica urbana”. Marcelo apresentou um caso emblemático de instrumentalização conservadora do discurso de “proteção ambiental” contra o direito a moradia, problematizando as ameaças de remoção que vêm sofrendo moradores de favelas da “zona de amortecimento” do Parque Nacional da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro. Apontou a diferença de tratamento dado para com outros casos (com maior impacto ambiental) em regiões nobres da cidade do Rio de Janeiro quando comparado ao caso mencionado anteriormente. Marcelo finalizou sua fala com a seguinte indagação: PROTEÇÃO AMBIENTAL PARA QUEM?



Já Enrique Leff discursou sobre a crise civilizacional e a racionalidade científica ocidental, que conduzem a humanidade ao colapso perante a “coisificação” da natureza, da qual é estimulada e agravada ainda mais pelo modo de produção capitalista. Leff enalteceu a necessidade de transformações epistêmicas no campo do conhecimento e dos paradigmas científicos, e a importância de uma epistemologia ambiental que seja orientada por uma ética e racionalidade ambiental, da qual supere a racionalidade mercantil (capitalista), com vistas a potenciar um desenvolvimento realmente sustentável e democrático.


E para encerrar os dois dias de conferências, Carlos Walter Porto-Gonçalves realizou uma fala excepcional, apresentando uma bela análise sobre a sociedade, problematizando o modelo vigente, a função da ciência, o processo de “encobrimento” e exploração da América Latina, e a conjuntura política atual brasileira. Carlos destacou a importância dos movimentos sociais e da ecologia política para a necessária transformação e superação do atual modelo societário.


O Festival Internacional de Cinema Socioambiental – Planeta.doc iniciou no dia 24 de outubro e acontecerá até o dia 24 de novembro, ao todo serão exibidos mais de 80 filmes em diferentes espaços e meios educacionais. Os principais objetivos do festival são:


1. Desenvolver um concurso internacional para exibir e premiar filmes que apresentem inovações sociais, científicas e tecnológicas que respondam aos desafios da sustentabilidade no mundo contemporâneo e que promovam o conhecimento científico interdisciplinar e ancestral sobre o funcionamento da Terra como sistema vivo, assim como a reflexão sobre a sociedade contemporânea;

2. Promover mostras cinematográficas de expressão artística nacional e internacional, estruturadas por meio de um extenso trabalho de envolvimento comunitário que utilize a arte cinematográfica como mecanismo de educomunicação;

3. Promover a exibição de filmes documentários e animações que ajudem a inserir o debate sobre a sustentabilidade nas escolas e universidades e a desenvolver uma cultura que preste maior atenção às relações entre o homem e seus ambientes naturais, sociais e culturais.


O Projeto Conhecer Pedalando parabeniza todos os organizadores, apoiadores e participantes deste importante festival. Parabenizamos em especial os conferencistas e cineastas que possibilitaram uma análise mais crítica e sistêmica das problemáticas socioambientais presentes em nossa sociedade. Vale lembrar que o Projeto Conhecer Pedalando desenvolve-se por meio de diversos questionamentos e angustias em relação ao modo de produção e funcionamento de nossa sociedade. Destacamos que a presente crise socioambiental que ameaça até a própria existência da humanidade é gerada e potencializada cada vez mais pelas relações sociais e ambientais do modelo de produção capitalista. Este fato não é apenas um reconhecimento que o atual modelo é injusto e que possui limites, mas é também um dos principais motivos da necessidade urgente da transformação deste, na busca por outro modelo, do qual possa ser mais justo e sustentável tanto ecologicamente como socialmente.


Obrigado e até a próxima!

* Todas as imagens desta matéria são de direitos do Planeta.doc.

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