Um dos objetivos do Projeto Conhecer Pedalando é conhecer e divulgar lugares, belezas naturais, culturas, pessoas, movimentos sociais, eventos, projetos e propostas sociais e educacionais. Buscamos conhecer o proposto por meio da bicicleta, ou seja, pedalando, superando limites e se aventurando pelos caminhos de nossa trajetória. Temos a pretensão de estimular e divulgar uma forma diferenciada de conhecer lugares, de se fazer turismo, de se relacionar com o caminho, com as pessoas e com o meio ambiente. Diante do exposto segue o relato de uma cicloviagem realizada neste mês de dezembro, onde conhecemos pedalando várias experiências, pessoas, caminhos, belezas naturais e movimentos. A seguinte cicloviagem percorreu de Blumenau até Curitiba por caminhos alternativos (vias vicinais) e retornou para o ponto de partida perpassando a Serra da Graciosa e parte do litoral paranaense e catarinense. Algumas imagens e detalhes desta viagem podem ser visualizadas no link https://www.facebook.com/media/set/?set=a.990467384391025.1073741849.764066890364410&type=1&l=015c24bba3 .
Além do objetivo de conhecer pedalando e se aventurar pelas experiências que os caminhos propostos poderiam oferecer, também segui em direção para o VI Encontro Nacional de Licenciaturas (Enalic), que neste ano foi sediado na cidade de Curitiba, onde apresentei um trabalho sobre as Práticas Corporais de Aventura, problemática da qual também é abordada e discutida em ações do Projeto Conhecer Pedalando.
Blumenau - Curitiba
Lá estava eu ao amanhecer da segunda-feira (dia 12) descendo as escadas do apartamento com a bicicleta carregada de alforjes e repleta de parafernálias para mais uma viagem de bicicleta. A descida pelos degraus da escada do apartamento já foi um teste para verificar se as bagagens estavam bem instaladas e armadas na bicicleta. Tudo certo com a bagagem abri a porta de entrada e ao colocar a bicicleta na rua começou a cair aquela chuva que me fez pensar se eu esperava a chuva passar, se eu cedia para o desejo de meus familiares e levaria a bicicleta de ônibus, ou partiria mesmo sobre chuva. Subi e desci as escadas, pensei e pensei, e decidi iniciar viagem sobre chuva, pois as interferências climáticas sempre estão presentes em viagens de bicicletas e também como dizia Raul na música Como Vovó Já Dizia “a chuva é minha amiga e eu não vou me resfriar”.
Já nos primeiros 2 km de viagem um dos alforjes soltou-se da bicicleta caindo no meio da rua daquela manha chuvosa. Peguei o alforje e com muita dificuldade o prendi novamente na bicicleta, diante aquela situação e chuva pensei novamente se valeria a pena continuar viagem e decidi mais uma vez prosseguir. A decisão não poderia ter sido mais feliz, pois após mais alguns quilômetros não peguei mais nenhum pingo de chuva e nem mais um alforje caído na rua. Pedalando rumo a Curitiba cheguei na cidade de Massaranduba e segui sobre uma tranqüila e bonita estradinha de barro em meio as plantações de arroz que me levaram até a cidade de Jaraguá do Sul.
Chegando na cidade de Jaraguá do Sul segui pedalando pelos caminhos do Rio Manso que é repleto de belezas, cachoeiras e subidas, do qual perpassa os municípios de Jaraguá do Sul e Schroeder, encerrando-se em Campo Alegre. No fim daquele dia estava eu ainda nos caminhos do Rio do Manso procurando algum lugar, casa ou terreno para montar a barraca e pernoitar para seguir viagem no dia seguinte. Em meio a busca de um local seguro e propício para pernoitar tive a felicidade de encontrar o Carlos, morador local que me convidou para pousar em seu rancho que ficava á alguns quilômetros a frente. Chegando a sua casa conheci seu colega Julio que naquela semana estava o ajudando cuidar do rancho (tratar os animais, limpar o terreno...), onde fui muito bem recebido pelos dois novos amigos que o caminho me possibilitou conhecer, dos quais me apresentaram o rancho e suas belezas naquela noite repleta de vagalumes, e me ofereceram boa conversa, uma deliciosa janta, um bom banho e uma boa cama. Deixo aqui os meus sinceros agradecimentos para os dois novos amigos Carlos e Julio que me receberam da melhor forma possível.
No dia seguinte iniciei viagem pelo Rio Manso até chegar ao pacato município de Campo Alegre. Em Campo Alegre segui por uma estrada de barro até a cidade de Agudos do Sul, que já pertence ao estado do Paraná. Em Agudos do Sul eu já procurava algum lugar para pernoitar, perguntei para algumas pessoas se conheciam um bom lugar para acampar, mas não obtive sucesso na busca. Sem ter conseguido um lugar para pernoitar resolvi seguir viagem em direção para Curitiba, já que restavam aproximadamente duas horas para o inicio da noite. Pedalei por rodovia até o município de Mandirituba, onde novamente tentei conseguir algum lugar para montar a barraca, mais especificamente um quintal de alguma residência, mas não obtive sucesso novamente na busca, e diante do local e da situação tive que me render a um pequeno e simples hotel da cidade.
Logo no amanhecer do dia seguinte retomei a viagem rumo a Curitiba, aonde cheguei ainda na manha daquele dia. Os caminhos e experiências que a viagem até Curitiba me ofereceram foram gratificantes e inesquecíveis, ainda mais diante das belas e pitorescas estradas das quais percorri e das belas pessoas que fizeram parte desta trajetória da qual a bicicleta me possibilitou vivenciar.
Curitiba
Chegando a Curitiba já me deparei com a verdadeira realidade urbana da cidade, da qual não é a mesma que a divulgada pelos meios midiáticos e órgãos públicos como cidade exemplo em mobilidade urbana e ciclística. Demorou a eu encontrar as rotas “cicláveis”, das quais estão mais presentes em regiões centrais e nobres da cidade, e estas em algumas das vezes se encontram más sinalizadas e em situações precárias. Porém, o planejamento e mobilidade urbana de Curitiba quando comparadas com a maioria das cidades brasileiras possui vários aspectos interessantes e positivos, como a presença de políticas públicas em prol de uma mobilidade ciclística, de um transporte público de maior qualidade, de melhores condições para pedestres e parte de uma boa infraestrura ciclística e de mobilidade já existente. Mas, mesmo diante de ações e iniciativas do poder público local em prol da bicicleta e para uma mobilidade urbana mais sustentável e inclusiva, não podemos negar as várias limitações e mazelas do modelo urbano de Curitiba que mesmo com os seus pontos positivos há muito que melhorar, principalmente para reverter os dados estáticos que nos mostram que Curitiba está entre as cidades mais motorizadas do Brasil, dado este que pode representar em parte as condições de mobilidade para ciclistas, usuários de transporte público e para pedestres da cidade.
Nos primeiros dias em Curitiba participei de algumas das atividades oferecidas pelo Enalic (mesas redondas e palestras), das quais por vezes discutiram sobre as ameaças e malefícios das atuais medidas governamentais e da conjuntura política nacional, que vem promovendo um retrocesso em várias conquistas e áreas sociais por meio de várias medidas e projetos de leis que visam precarizar ainda mais os serviços públicos essenciais. Medidas estas que ameaçam aumentar ainda mais as desigualdades sociais e a não garantia de muitos dos direitos constitucionais, de uma forma não democrática e ilegal perante a constituição, promovendo e se utilizando de um estado de exceção para servir a interesses individuais e impopulares. E também como dito anteriormente, apresentei no Enalic um trabalho relatando as possibilidades e os benefícios que as Práticas Corporais de Aventura podem oferecer quando inseridas como conteúdo educacional no contexto escolar e os desafios e resistências que podem estar presentes no processo de inserção destas práticas no âmbito escolar.
Entre os intervalos de tempos disponíveis na programação do Enalic e nos dias após o evento pude sentir e vivenciar um pouco e partes da cidade de Curitiba por meio da bicicleta que me possibilitou uma relação única com as pessoas e os espaços da cidade, onde pude conhecer pedalando vários parques, ruas, atrativos e regiões. Entre os parques que conheci pedalando destaco o grande Parque Barigui que é um dos maiores de Curitiba; o Parque São Lourenço que conta com vários atrativos; o Parque Tanquá que possui uma cascata e um túnel artificial; o Parque Tingui, onde possui várias trilhas, lagoas e áreas verdes, assim como os demais parques já mencionados; e o Parque Vista Alegre que é uma nova unidade de conservação de Curitiba do qual possui uma pequena cachoeira formada pelo córrego da Vista Alegre, e outras atrações.
Além dos parques já citados também conheci pedalando vários outros atrativos da cidade, como o Passeio Público que é o primeiro parque de Curitiba; o belo Bosque do Alemão que é rico de atrações e belezas como a trilha João e Maria, a Torre dos Filósofos, a Praça da Cultura Germânica, entre outras atrações; o Bosque do Papa onde possui algumas trilhas ecológicas; os belos teatros do Paiol e da Ópera do Arame; o Museu Oscar Niemeyer, de autoria do grande e inesquecível arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer e um dos maiores museus da América Latina; o Jardim Botânico que é um pontos turísticos mais visitados da cidade; a Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), onde possui uma proposta e local diferenciado, do qual realiza diversos estudos a respeito da preservação de ecossistemas e sustentabilidade ambiental; e demais universidades como a grande e bela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) que sediou o Enalic deste ano.
Em Curitiba obtive a bela experiência de conhecer pedalando muito mais do que os atrativos já mencionados, conheci também os caminhos, trajetos e pessoas que fazem parte e criam a história de Curitiba. Destaco uma das ruas percorridas nos diversos caminhos pedalados, a histórica Rua São Francisco, local rico de diversidade, arte e barzinhos, que é um grande ponto de encontro e confraternização, principalmente no período noturno. Tive a experiência de conhecer esta interessante rua em uma das sextas feiras noturnas e também de percorrer e pedalar nela sobre a luz do sol de alguns dos dias que estive em Curitiba, onde pude sentir e curtir um pouco do que ela e seus diversos atrativos podem oferecer. Lá conheci várias pessoas e locais interessantes como o vendedor de especiarias naturais; um casal que fazem um delicioso hot-dog vegano com salsichas de feijão; a Bike Lab Custon, uma exótica oficina do eletro mecânico Jean Kruger que realiza e vende várias raridades, adaptações e preparações em bicicletas, motos e bicicletas motorizadas; a bela e encantadora vendedora de velas artesanais Aline Lima; a Praça de Bolso do Ciclista e a Bicicletaria Cultural.
A Praça de Bolso do Ciclista fica em uma das esquinas da Rua São Francisco e é fruto de uma interessante ação política e coletiva de ocupação de um espaço público, onde estava sendo construída uma edificação privada e a partir de mobilização popular com grande participação de ciclistas conseguiu-se reivindicar e garantir a construção de uma praça pública naquele espaço. A primeira conquista foi a do terreno que já era público, e depois a solicitação para que o poder público municipal construísse a praça, do qual disponibilizou apenas os materiais de construção, e o restante como planejamento e construção (mão de obra) foi realizado por ciclistas da Alto Iguaçu e comunidade, dos quais prontificaram-se a projetar e construir a praça com esforços próprios. E diante de toda essa ação política e também controversa, a praça foi construída de forma voluntária e “cidadã”. Na praça há paraciclos, mosaicos e várias outras obras artísticas, inclusive da artista suíça Mona Caron que foi uma das primeiras participantes da Massa Crítica de São Francisco (EUA) e que pintou em murais de várias cidades do mundo. Mais informações sobre o processo político e de construção da praça podem ser conferidas no documentário “Praça de Bolso do Ciclista” realizado pelo Ciclo Iguaçu e Valentinna Filmes, https://vimeo.com/122463936 .
E em frente à Praça de Bolso do Ciclista fica a Bicicletaria Cultural, um empreendimento social que teve uma participação ativa na conquista da Praça de Bolso do Ciclista, e que possui uma proposta para lá de interessante, da qual é premiada nacionalmente por promover a mobilidade de bicicleta e mundialmente como um empreendimento social e inovador. O local oferece serviços, informações e apoio aos ciclistas, além de uma agenda cultural repleta de atividades artísticas. A Bicicletaria Cultural junto com a Associação dos Ciclistas do Alto Iguaçu também fomenta o cicloativismo, com o objetivo de garantir melhores condições para ampliar o uso da bicicleta como meio de transporte. Fiquei encantado com a proposta do local, onde pude conhecer a bela estrutura; a Patricia Valverde, uma das idealizadoras do empreendimento; João Vieira, artista e cicloviajante que estava expondo suas fotografias; e demais colaboradores. Mais informações sobre a Bicicletaria Cultural pode ser acessadas na FanPage da Bicicletaria, www.facebook.com/bicicletariacultural/ .
Os caminhos pedalados em Curitiba também me possibilitaram a satisfação de conhecer o Sr. José Américo Reis Vieira, da Bike Tour Club. O Sr. Américo como gosta de ser chamado, é um ser com uma história de vida incrível, tão incrível que dará um livro imperdível, do qual já está em construção. Américo possui muitas histórias e vivências para contar, natural de Manaus-AM, foi um grande atleta de ciclismo conquistando diversos títulos em diferentes estados e regiões, e também formou equipes de ciclismo, das quais revelaram diversos campeões e contribuíram para o crescimento do ciclismo em Manaus e demais regiões brasileiras. Mas o envolvimento e história de Américo com a bicicleta não se deu apenas na dimensão esportiva e de rendimento. Em 1966, Américo ao viajar de bicicleta de Manaus-AM para Boa Vista-RR realizou a primeira das muitas cicloviagens que ainda realiza e organiza. Outra cicloviagem que foi marcante na trajetória de Américo foi a de Manaus até Porto Velho-RO em 1974, onde percorreu a Transamazônica poucos dias antes de sua inauguração. Desde a realização de suas primeiras cicloviagens, Américo vem organizando e promovendo muitas outras, sendo um grande fomentador do cicloturismo, principalmente por meio de sua proposta “Cicloturismo de Integração e Cultura” e de seu empreendimento Bike Tour Club, que é uma oficina, loja, agência de cicloturismo, ponto de encontro de diversos ciclistas e uma escola de bicicleta, da qual já atendeu mais de 3500 alunos nos seus mais de 20 anos de existência.
Foi um grande prazer conhecer um pouco das histórias e da essência do amigo Américo por meio da divertida conversa que tivemos em seu estabelecimento, onde pude viajar e me inspirar em várias das suas vivências, experiências, conhecimentos e projetos sociais, que transformaram a vida de muitas pessoas, feitos dos quais estão bem registrados em vários documentos, portfólios, fotografias, dedicatórias, cartas de agradecimentos, e na excelente memória de seu Américo.
Foram várias as pessoas que conheci nos caminhos e vivências em Curitiba, como o talentoso fotógrafo Gus Benk, o artista Madayati que me presenteou com a sua bela arte, as interessantes garotas polonesas que estavam viajando e conhecendo várias regiões brasileiras, entre tantas outras pessoas que não menos especiais que as aqui citadas fizeram parte desta minha trajetória em Curitiba. Quero agradecer em especial as lindas e queridas Brenda Lee e Ricota (cachorrinha de Brenda) que me receberam e me hospedaram da melhor forma possível no apartamento delas. Sou imensamente grato a Brenda, uma garota maravilhosa, que tive graças a ela e também a Aline do encantador e interessante projeto Rota Verbum a oportunidade de vivenciar as experiências em Curitiba aqui relatadas.
Curitiba – Blumenau
Na manhã do terceiro domingo do mês de dezembro peguei a estrada novamente para dar continuidade à viagem, saí de Curitiba em direção à bela e histórica Estrada da Graciosa. Cheguei ao portal de entrada da Estrada da Graciosa próximo ao meio dia, onde comecei a descer a antiga rota dos tropeiros que liga o município de Quatro Barras a Morretes e Antonina. A estrada perpassa a bela Serra do Mar, oferecendo belas vistas em meio à preservada mata atlântica, cachoeiras e nascentes, das quais podem ser avistadas e apreciadas nos vários recantos (pontos de parada que dispõem de banheiros e churrasqueiras) existentes no decorrer do caminho desta pitoresca estrada.
Chegando ao fim da Estrada da Graciosa continuei pedalando na histórica cidade de Morretes, tendo como paisagem o Pico Marumbi, um dos maiores picos do Paraná. A minha pretensão era seguir rumo a Estrada da Limeira, uma estrada de barro bem acidentada que tem inicio em Morretes e termina no municio de Garuva/SC, porém devido a problemas que obtive com um par de alforjes que se danificaram no caminho segui por um outro caminho, rumo a Paranaguá, visto que os alforjes estavam presos de forma improvisada e infirme nos bagageiros da bicicleta, o que dificultaria o meu percurso na Estrada da Limeira. Cheguei a Paranaguá na noite do mesmo dia, onde pernoitei em um hostel para continuar viagem no dia seguinte.
Na manha do dia seguinte passeei pelo centro histórico de Paranaguá, que é a cidade mais antiga do Paraná. São vários os casarões e construções históricas que possuem enorme beleza, mas que seriam ainda mais belos se estivesse em melhores condições de conservação, pois muitos estão em situações precárias e de abandono. A cidade conta também com muitos outros atrativos, como a sua bela e grande baía, a famosa Ilha do Mel que é rica em belezas naturais e um dos mais visitados e belos parques estaduais do país, entre outras ilhas, belezas e atrativos históricos e culturais. Após conhecer pedalando alguns pontos e belezas de Paranaguá, segui pedalando por rodovias até a Praia de Leste do município de Pontal do Paraná, onde continuei viagem pelas areias das praias até a praia de Caiobá do município de Martinhos.
Em Martinhos peguei a balsa para Guaratuba, onde continuei a pedalar pela beira mar até chegar ao municio catarinense de Itapoá. Pedalei até a balsa que atravessa a bela Baía da Babitonga para São Francisco do Sul, porém, não haveria no dia mais viagens para São Francisco do Sul, pois a ultima balsa já havia partido. Aproveitei as poucas horas que restavam da luz do dia para apreciar as belezas da Baía da Babitonga. Antes de anoitecer procurei algum lugar para pernoitar, eu até havia conseguido um local para acampar no sitio de um senhor que conheci em uma gostosa sorveteria, no entanto devido ao exaustivo dia fui à procura de alguma pousada para poder estar mais descansado para o próximo dia, e se caso eu não encontrasse uma pousada a um preço acessível eu tinha a opção de acampar no sitio do gentil senhor que conheci na sorveteria. Fiquei na primeira pousada que encontrei, ainda mais depois de ter conseguido com o dono da pousada um desconto que fez a diária custar menos que a metade do valor normal.
Os caminhos percorridos naquele longo dia de pedal me proporcionaram novamente o prazer de conversar e conhecer várias pessoas, como o senhor da sorveteria que me ofereceu pouso em seu sitio; o seu Iraci, um senhor que já viajou de bicicleta de Paranaguá até a Bahia e que pretende realizar outra cicloviagem com os seus filhos até Porto Alegre; o ecocicloturista Osvaldo Nacimento Junior que já realizou várias cicloviagens e que também escreve na coluna sustentabilidade de um dos jornais de Curitiba; um simpático casal que deseja conhecer o circuito vale europeu; entre outras pessoas que enriqueceram ainda mais as experiências de mais um maravilho dia de descobertas e aprendizagens.
No dia seguinte iniciei viagem atravessando a balsa para São Francisco do Sul, na travessia que oferece a vista para belos cenários da baía da babitonga conheci o Sr. Renê, um carioca repleto de histórias para contar diante da suas várias experiências de vida. Renê me contou um pouco sobre a sua história de vida, da qual veio ainda criança para Itapoá e depois quando jovem conheceu vários lugares do Brasil e da América do Sul através de navios pesqueiros, e hoje é feliz vivendo na maior simplicidade e paz possível em seu sitio onde tem plantações de café e hortaliças.
Chegando a São Francisco do Sul pedalei pelo centro histórico da cidade que é a mais antiga de Santa Catarina e a 3ª mais antiga do Brasil. Perpassei por vários casarões históricos, o Mercado Público, o Museu Nacional do Mar, entre outros atrativos históricos, onde muitos destes poderiam estar em melhor estado de conservação e de visitação por meio de uma melhor infraestrutura e proposta turística. A negligência do poder público e a falta de uma boa proposta turística que conserve, informe e ofereça de forma inclusiva a importância dos patrimônios culturais e históricos é evidentemente no centro histórico de São Francisco do Sul, ainda mais quando nos deparamos com o trânsito intenso de automóveis que deformam as belezas e peculiaridades históricas do local.
Depois de passar pelo centro histórico da ilha de São Francisco do Sul segui pedalando em direção para algumas das belas praias da ilha. Comecei pela Praia de Paulas, seguindo para a bela Praia do Forte, que leva este nome pela existência do Forte Marechal Luz, do qual se tornou uma colônia de férias após a sua desativação em meados da década de 1970. A visitação ao forte é permitida através do pagamento de uma taxa de entrada (R$2), onde seguindo uma estradinha de barro é possível acessar o alto do morro do forte, do qual oferece belas vistas para a Praia do Forte, a Baía da Babitonga e demais praias da ilha, e também a visitação a antiga estrutura e ao pequeno museu militar que lá é mantido.
No mirante do morro do forte pude apreciar a beleza das vistas e de fenômenos naturais, visto que no momento em que eu lá estava iniciou-se uma breve tempestade com relâmpagos, raios e chuva. Passada a rápida tempestade segui ainda por alguns minutos sob chuva para a Praia da Enseada, que já é uma praia mais movimentada, com maior número de comércios, hotéis e restaurantes. Logo após a Praia da Enseada passei pela Prainha que é um local de encontro e de prática para os surfistas. Seguindo em frente e comecei a pedalar pela Praia Grande que possui mais de 25km de extensão e que faz parte e é preservada pelo Parque Estadual do Acaraí, que contempla e protege a Praia Grande, a restinga, dunas, manguezais e o complexo hídrico do Rio Acaraí.
O trajeto percorrido pelos belos caminhos da estrada sem pavimentação alguma que mescla trechos de areia e silte da deserta Praia Grande até a Praia do Ervino pode ter sido uma das maiores aventuras da viagem, visto que quando comecei a pedalar pela referida estrada o tempo estava nublado e a bem menos da metade do trajeto começou a cair uma chuva intensa que dificultou muito a continuação e condição de se pedalar no trajeto. Boa parte da estrada transformou-se em um lamaçal, onde em vários pontos tive que levar arduamente a bicicleta empurrando na estrada que parecia um lodo. Porém toda a dificuldade enfrentada não tirou o brilho e o prazer de vivenciar aquela experiência, da qual foi muito rica e gratificante para mim, principalmente por ter me oferecido várias sensações prazerosas naquele fascinante cenário em meio à praia, restinga, chuva e lama.
A inesquecível, extenuante e prazerosa experiência na Praia Grande me fez mudar a continuação do trajeto, pois já era próximo do fim do dia e eu precisava pedalar até Penha para pousar na casa de uma parenta. A minha pretensão era de seguir pelo Balneário Barra do Sul que é um caminho cheio de atrações e belezas, mas devido as variáveis de tempo e clima segui de Araquari até Penha pela BR 101, onde tive que pedalar parte dela a noite, chegando depois das 22h em Penha.
Em Penha fui muito bem recebido pela minha prima de segundo grau Fabiana e suas filhas. Deixo aqui os meus sinceros agradecimentos para elas que me propiciaram uma boa e precisa noite de descanso. Na manhã do outro dia segui pedalando até Gaspar na casa de minha querida avó Arcilene, onde pude matar um pouco da saudade dela e de sua deliciosa comida. No caminho até a casa dela tive alguns imprevistos com os pneus da bicicleta, o primeiro me fez trocar a câmara de ar e o outro me fez procurar uma borracharia diante de um furo no outro pneu. Imprevistos que não me impediram de almoçar na companhia de meus queridos avós Arcilene e Cipriano. No dia seguinte pedalei até Blumenau, encerrando mais uma cicloviagem rica de novas experiências, vivências, sensações e prazeres, da qual a bicicleta me permitiu CONHECER PEDALANDO.
Obrigado e até a próxima!