Um dos objetivos do Projeto Conhecer Pedalando é conhecer lugares, belezas naturais, aventuras, pessoas e culturas, com intuito não apenas de conhecer, mas de divulgar e disseminar as experiências e vivencias obtida nas pretendidas buscas. Buscamos conhecer o proposto por meio da bicicleta quando possível, pois acreditamos que além de seus inúmeros benefícios ambientais e sociais, a mesma também oferece uma experiência e relação com os lugares e as pessoas de forma única e diferenciada dos meios de transportes motorizados. Temos a pretensão de estimular e divulgar uma forma diferenciada de conhecer lugares, de se fazer turismo, de se relacionar com o caminho, com as pessoas e com o meio ambiente. Diante do exposto segue o relato de uma pequena cicloviagem realizada por parte do litoral da região Costa Verde Mar, percorrendo de Blumenau até as belas praias de Itapema, Porto Belo e Bombinhas, onde conhecemos pedalando diferentes experiências, desafios, sensações, pessoas, caminhos e belezas naturais, nos primeiros dias do mês do fevereiro.
A cicloviagem aqui relatada percorreu alguns dos trechos e caminhos do Circuito Costa Verde Mar de Cicloturismo, como também caminhos opcionais do referido circuito e atrativos e belezas próximas do mesmo. Algumas imagens e detalhes desta viagem podem ser visualizadas no link www.facebook.com/media/set/?set=a.1043419269095836.1073741852.764066890364410&type=1&l=4d4fefc213. E mais informações sobre o Circuito Costa Verde Mar de Cicloturismo podem ser conferidas no relato de uma cicloviagem que realizamos ano passado por outros caminhos deste circuito, http://conhecerpedalando.wixsite.com/projeto/single-post/2016/1/11/A-Regi%C3%A3o-Costa-Verde-Mar-um-relato-de-uma-viagem-de-bicicleta e na página do circuito http://www.costaverdemar.com.br/cicloturismo/.
O começo da cicloviagem presente neste relato se deu no fim de tarde da primeira quinta feira (dia 2) de fevereiro, quando novamente desci as escadas do apartamento com a bicicleta carregada de alforjes e bugigangas para mais uma cicloviagem, porém esta, com menos bagagens do que cicloviagens anteriores, mas o que não impediu de eu descer raspando as paredes do condomínio com a bicicleta perante o peso da mesma. Naquele fim de tarde segui apenas até a casa de meus queridos avós Arcilene e Cipriano, em Gaspar, de onde continuaria viagem na manhã seguinte.
Na sexta feira após um delicioso café da manhã de avó, segui viagem pedalando pela rodovia Jorge Lacerda, pelo município de Ilhota, pela BR 101 em Itajaí, e pela primeira vez subindo e descendo pedalando o Morro do Boi em Balneário Camboriú, pois sempre havia passado pela rodovia Interpraias, da qual vale ressaltar que é muito mais bela e atrativa do que o Morro do Boi, porém devido a nunca ter passado de bicicleta e também por ser mais perto do que a Interprais, perpassei nesta vez pelo referido morro. Pedalando mais um pouco além do Morro do Boi, cheguei ao município de Itapema na companhia de uma fraca garoa, da qual esteve comigo em vários momentos daquele dia.
Em Itapema segui pela beira mar da Praia Central e pela bela ciclovia a beira mar de Meia Praia, da qual faz parte do projeto Parque Calçadão, que oferece uma boa infraestrutura para a mobilidade e passeio de pedestres, ciclistas, turistas e banhistas. Pedalando avante cheguei a Praia de Perequê, que já pertence ao município de Porto Belo. Mas antes de relatar sobre Porto Belo, vale divulgar dois atrativos de Itapema, o Mirante do Encanto e a Praia Grossa, nos quais conheci pedalando recentemente quando voltava de uma cicloviagem para Florianópolis realizada poucos meses atrás.
O Mirante do Encanto oferece uma bela vista de todas as praias da cidade e do entorno de Itapema. No topo do mirante há a disposição duas lunetas especiais para observação da paisagem oferecida. O mirante fica localizado no Morro do Cabeço, no Canto da Praia e a entrada é gratuita, o acesso até o topo do mirante é feito por meio de um elevador. E próximo ao mirante fica localizada a trilha para a bela e deserta Praia Grossa, onde preserva uma rica biodiversidade, sendo um reduto de várias espécies ameaçadas de extinção.
No entanto, mesmo sendo uma importante localidade para a preservação ambiental, a Praia Grossa sofreu grande ameaça de interesses do capital (especulação imobiliária), do qual pretendia construir um grande empreendimento hoteleiro na praia, onde já se tinha até licença ambiental prévia para execução de tamanho crime ambiental. Mas felizmente a construção do empreendimento que resultaria em um grande impacto ambiental para o proveito financeiro de uma minoria, foi barrada. O impedimento ocorreu devido à mobilização e resistência da população, ambientalistas e movimentos, que realizaram varias manifestações, um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para a preservação da Praia Grossa, e também denuncias para o Ministério Público.
Dando continuidade ao relato, segui viagem pela Praia de Perequê, que me levou para o centro de Porto Belo, onde fui visitar o Píer Turístico que fica na Praia do Baixio e em frente à Ilha de Porto Belo. O Píer é um dos pontos de acesso para a bela e histórica Ilha de Porto Belo, da qual oferece vários atrativos, como o Ecomuseu da Univali, trilhas ecológicas e práticas de esportes náuticos e de aventura. Infelizmente não foi desta vez que conheci a ilha, devido ao clima que estava instável naquela tarde e a imprevistos que impediram de eu conhecê-la nos outros dias previstos. O translado para a Ilha a partir do Píer é oferecido pelos barcos da Associação de Pescadores.
Continuando viagem, segui rumo a Área de Proteção Ambiental da Ponta do Araçá, onde possui uma rica vegetação, belas paisagens, e também uma curta trilha que leva até o costão da ponta. Mas antes de chegar na Ponta do Araçá, passei pela Praia do Araçá, que tem várias barcos de pescadores artesanais; pela Enseada do Caixa D’Aço, uma bela praia próxima a vegetação que possui três bares-flutuantes, que na minha percepção ofuscam a beleza natural e a tranqüilidade do local, já que na alta temporada os bares viram um point de parada de iates e lanchas. Entre a Ponta do Araçá e a Enseada do Caixa D’Aço há a Praia do Estaleiro, da qual dizem ser muito bela, mas que não pude conhecê-la naquele momento devido as minhas bagagens que aumentavam o peso da bicicleta, o que tornaria ainda maior as dificuldades presentes na trilha (com alguns trechos de escadas) que dá acesso a praia.
Após conhecer e apreciar a Ponta do Araçá, segui em direção ao Morro da Antena em Zimbros, perpassando Bombas e o bairro Sertãozinho. O Morro da Antena liga Zimbros á Porto Belo, possui uma forte e íngreme subida em estrada de terra que desafia a condição física de quem sobe de bicicleta. No topo do morro peguei uma entrada a esquerda que leva a uma trilha em meio a mata que da acesso ao bairro Santa Luzia de Porto Belo. A trilha possui certo grau de dificuldade, com um terreno bem acidentado, valetas, pedras, banhados, e várias subidas e descidas. Tive muita dificuldade para concluir a trilha, principalmente diante da bicicleta carregada de alforjes, onde em vários momentos precisei carregá-la para passar pelos obstáculos presentes no caminho.
As condições do trajeto aliada as condições de minha bicicleta me geraram um grande desgaste físico e energético, mesmo eu parando e descansando várias vezes para recuperar o fôlego. Para minha sorte, encontrei o Marcos, ciclista de Curitiba que tem casa em Bombas e que estava fazendo a trilha com a sua bicicleta. Marcos me acompanhou e muito me ajudou no restante da trilha, e no momento mais crítico quando eu estava exausto e com pouquíssimas energias ao ponto de não conseguir fotografar uma bela paisagem, Marcos me salvou oferecendo suplemento energético para que eu conseguisse superar o restante da trilha e fotografar algumas das belas vistas presentes em vários pontos do caminho.
Após concluir a trilha, segui sob a noite para Tijucas, onde pernoitei e descansei da melhor forma possível na casa da querida amiga Sarita Samagaia. Mesmo diante dos desafios e dificuldades enfrentados na trilha, fico muito feliz por vivenciar experiências como a referida, pois nelas levo comigo sempre um grande aprendizado e reflexão, desenvolvo minhas percepções, concepções e sensibilidades a respeito de várias questões do cotidiano, questões pessoais, intrínsecas e da vida, da relação mundo e eu, natureza e meio ambiente. Além também de aprender e conquistar experiências para enfrentar desafios cada vez maiores, e de usufruir dos prazeres, sensações e sentidos que os riscos, as incertezas e o imprevisível oferecem, dos quais me motivam a vivenciar cada vez mais experiências como estas.
No dia seguinte me levantei cedo para Conhecer Pedalando novos lugares e experiências. Acordei, tomei um bom café e segui em direção para entrada da Trilha Costeira de Zimbros, da qual acessei pelo lado de Santa Luzia. A trilha perpassa pela costeira de Zimbros que desde novembro de 2015 é uma unidade de conservação pertencente ao Parque Natural Municipal da Costeira de Zimbros. A trajeto oferece o acesso para quatro lindas praias, a Praia do Cardoso, Praia da Lagoa, Praia Triste e Praia Vermelha, destas quatro praias, três são desertas e uma com apenas alguns ranchos de pescadores artesanais. A travessia de aproximadamente 6km pode ser percorrida a pé ou de bicicleta.
O trajeto da trilha apresenta alguns desafios e dificuldades para quem o realiza pedalando, em vários trechos poderá ser necessário empurrar a bicicleta, tendo que em alguns até carregá-la. Porém o grau de dificuldade do percurso dependerá do condicionamento físico de quem o realizará, seja ciclista ou caminhante. Entretanto, todo o esforço físico é recompensado pelas belas paisagens, praias e atrativos naturais do caminho.
A experiência que obtive no decorrer do trajeto foi maravilhosa, nas paisagens apreciadas, nos obstáculos superados, nas descidas pedaladas, nas praias percorridas, das quais mergulhei nas calmas e transparentes águas de cada uma delas, e ainda tive o prazer de mergulhar também nas águas da bela cachoeira da Praia Triste, que de triste não tem nada. O acesso para a cachoeira da Praia Triste é feito por meio de uma trilha localizada no meio da praia.
Fiquei assustado e um pouco angustiado com o final da trilha da Costeira, que é o inicio para quem o acessa por Zimbros, lá me deparei com uma estrada ainda não pavimentada, onde poderia ser transitada por automóveis facilmente caso estivesse aberta e não fechada com apenas um corrente. A minha preocupação é se aquela estrada que entra adentro de parte da trilha possa ser um pré indicio de futuras construções de imóveis e empreendimentos, dos quais ameaçariam a preservação daquele rico ambiente. Os moradores locais próximos a recente obra me informaram que a estrada foi realizada devido as obras da companhia responsável pela rede de esgoto e saneamento básico da cidade. No entanto os moradores também se mostraram preocupados com a possibilidade de aquela obra servir a interesses da especulação imobiliária perante a possibilidade de futuras construções de imóveis ou lotes.
Concluída a Trilha da Costeira, segui pedalando pelas areias da Praia de Zimbros e pelas ruas da Praia de Canto Grande, até chegar ao inicio da trilha para o Morro do Macaco, que fica localizada aos fundos de um bar no final da Praia de Canto Grande. O Morro do Macaco é uma unidade de conservação que alcança em seu topo, 191m de altitude, oferecendo uma bela vista das praias de Mariscal, Zimbros, Canto Grande, Morrinhos e da Reserva da Ilha do Arvoredo. Mas já se pode contemplar varias belezas naturais e belas vistas da região durante o percurso da trilha que leva até o topo do morro. Realizei o referido percurso com a bicicleta, porém, recomendo ir de pé, pois são poucos os trechos disponíveis para se ir pedalando e as dificuldades se tornam bem maiores quando se leva a bicicleta até o topo. E também há o risco de danificar a bicicleta, o que infelizmente aconteceu no meu caso, onde no topo do morro vi o cambio traseiro quebrado, o que talvez possa ter acontecido perante as exigências e condições dos caminhos e trilhas já percorridos antes do Morro do Macaco.
Diante à situação daquele momento (bicicleta danificada) tive que mudar meus planos, em vez de conhecer a trilha para a praia da Tainha que tem a sua entrada ao lado da trilha para o Morro do Macaco, fui à busca de alguma oficina de bicicletas, com a intenção de reparar a bicicleta para pelos menos conseguir voltar pedalando até Tijucas, visto que já era próximo das 19h. Não encontrei nenhuma oficina de bicicleta, deste modo, tive que ir empurrando a bicicleta até Tijucas.
A caminhada de aproximadamente 24 km da ponta da Praia de Canto Grande até Tijucas foi mais um dos desafios daquela cicloaviagem. No entanto fui tentando curtir o caminho dentre aquela situação. Em alguns momentos aproveitei algumas das descidas e também tentei ir dando pernadas com a bicicleta (estilo skatista). No trajeto enfrentei novamente o Morro das Antenas, passei pelo centro de Porto Belo, curti o pôr do sol na Praia do Baixio, e na rótula da entrada de Porto Belo segui pelas estradas que levam para o bairro de Santa Luzia em meio a plantações e trechos de estradas de barro que me levaram até Tijucas, na noite daquele dia repleto de emoções, aventuras, prazeres e desafios.
Após uma boa noite de descanso, segui no próximo dia para a rodoviária de Tijucas, onde de ônibus retornei para casa. Mas antes de chegar à rodoviária, ainda pude aproveitar um pouco do caminho até a mesma, apreciando os antigos casarões de Tijucas e algumas de suas atrações, como o histórico e abandonado Cine Teatro Manoel Cruz, os casarões Gallotti e Bayer, e a Praça Henrique Ternes, mais conhecida como Praça do Dinossauro.
A presença de um Dinossauro na Praça Henrique Ternes fomenta várias lendas e causos, como a existência de um monstro do Lago Ness em Tijucas, entre outras histórias. Porém a justificativa mais plausível e concreta é a iniciativa e vontade do ex-prefeito Nilton Fagundes, o Gordo, que na década de 1980 conheceu e se inspirou na estátua de um dinossauro presente no município de Santo Amaro da Imperatriz, resultando na construção do famoso Dino na referida Praça em Tijucas.
Já os casarões Gallotti e Bayer representam um pouco da história da colonização de Tijucas e embelezam a rua em que estão presentes. Porém infelizmente o estado do antigo Cine Teatro Manoel Cruz representa o descaso e abandono dos herdeiros e do poder público com o patrimônio histórico e cultural da cidade. O Cine Teatro foi uma das mais importantes casas culturais de Santa Catarina, um centro cultural que entre as décadas de 1920 e 1930 exibia vários espetáculos e filmes mudos, muitos acompanhados pelos filhos de Manoel Cruz, que tocavam violino e piano. E nos dias de hoje se encontra depredado e literalmente caindo, já estando visivelmente em ruínas.
Infelizmente os imprevistos com a bicicleta me fizeram adiar os passeios para a Trilha da Tainha, à Trilha da Sepultura, para a Ilha de Porto Belo e para a cachoeira do Sertão do Trambudo em Itapema, que eu conheceria na volta para casa. Porém, os imprevistos não tiraram o brilho e os prazeres obtidos nas vivências aqui relatadas, muito pelo contrário, proporcionaram ricas experiências e ensinamentos para melhor lidar com futuras situações e desafios como os aqui presentes.
Agradeço novamente a acolhida da amiga Sarita, a ajuda do amigo Marcos, e também pela oportunidade de vivenciar mais uma cicloviagem.
Obrigado e até a próxima!